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As Dinâmicas de Grupo de Bion para Empresas Familiares

Um grupo de primatas vestidos de terno e gravata sentados ao redor de uma fogueira. Eles parecem estar em uma reunião de negócios, apesar do cenário natural ao redor.

1. Introdução

Wilfred Bion, um notável psicanalista britânico, introduziu o conceito de que as dinâmicas de grupo operam sob certos “pressupostos básicos”. Ou seja, membros de um grupo pode adotar, inconscientemente, comportamentos que dominam a atividade do grupo. Essas condutas, portanto, podem ocorrer sem que seus membros estejam cientes ou tenha essa intenção racional. Ele parte da base teórica de Freud e Melanie Klein para desenvolver suas ideias sobre as dinâmicas de grupo.

2. Conceitos Fundamentais de Bion sobre Dinâmicas de Grupo

Bion explorou a ideia de que os grupos operam em dois modos distintos, mas interconectados: o grupo de pressupostos básicos e o grupo trabalho. O grupo de trabalho é racional e focado em objetivos, tarefas e a realidade exterior. Por outro lado, o grupo de pressupostos básico é irracional, guiado por emoções básicas e instintos primitivos que podem desviar o grupo de seus objetivos. Essa teoria é crucial para entender como as emoções subconscientes impactam a dinâmica organizacional e a tomada de decisão.

2.1 Grupos de Pressupostos Básicos

Um dos pontos centrais da teoria de Bion é a noção de que instintos básicos guiam o comportamento de membros de um grupo. Ou seja, estados mentais coletivos que dominam a dinâmica de um grupo de maneira inconsciente e muitas vezes irracional. Bion destacou três pressupostos básicos principais que influenciam a conduta dos grupos:

Dependência: este pressuposto descreve uma situação em que os membros do grupo se comportam como se estivessem reunidos para serem cuidados e sustentados por uma figura de liderança. Esse líder é percebido como alguém que deve prover segurança, direção e nutrição emocional ou intelectual. A dinâmica de dependência pode surgir especialmente em contextos em que os membros do grupo se sentem inseguros ou incapazes de enfrentar desafios por conta própria.

Acasalamento: neste modo, o grupo busca um líder capaz de criar ideias e projetos ou de prover uma coesão mais profunda do grupo. Este pressuposto pode se manifestar via fantasias coletivas de união ou de projetos futuros idealizados, onde o grupo se engaja na busca por um objetivo comum que fortaleça os laços internos.

Luta ou Fuga: aqui, o grupo se comporta como se estivesse constantemente sob ameaça, seja de um inimigo externo ou de circunstâncias adversas. O resultado é uma dinâmica de grupo centrada na luta contra essa ameaça percebida ou na evasão dela. Este pressuposto pode se manifestar em um sentimento de paranoia, um desejo de confrontar supostos adversários ou numa retirada coletiva das situações percebidas como perigosas ou desafiadoras.

2.2 Grupos de Trabalho

O conceito de “grupo de trabalho” refere-se ao modo pelo qual um grupo opera de forma consciente e orientada para atingir objetivos específicos e tarefas definidas. Ou seja, os membros do grupo colaboram, utilizando suas habilidades e conhecimentos específicos, para solucionar problemas, tomar decisões e alcançar os resultados desejados. Assim, a dinâmica do grupo de trabalho tem as seguintes características:

Orientação para a Realidade: O grupo de trabalho está fortemente ancorado na realidade e na racionalidade. Os membros estão focados em atingir objetivos específicos e tarefas claramente definidas, utilizando a lógica e o pensamento crítico para superar os desafios e realizar o trabalho necessário.

Cooperação e Colaboração: Os integrantes cooperam entre si efetivamente, cada um contribuindo com suas habilidades e conhecimentos para alcançar os objetivos comuns. A colaboração é marcada por uma comunicação aberta e um compromisso compartilhado com os resultados.

Capacidade de Autoanálise: Um grupo de trabalho consegue examinar seus próprios processos e dinâmicas internas, permitindo ajustes e melhorias contínuas na forma como trabalham juntos. Isso inclui a habilidade de reconhecer quando estão regredindo para um modo de funcionamento baseado em pressupostos básicos e tomar medidas para realinhar suas ações com os objetivos do grupo.

Adaptação e Flexibilidade: Os grupos de trabalho são adaptáveis e podem ajustar suas estratégias e abordagens em resposta a novas informações ou mudanças no ambiente externo, mantendo o foco na tarefa em questão.

Liderança Funcional: A liderança em um grupo de trabalho é muitas vezes mais fluida, com diferentes membros assumindo papéis de liderança conforme necessário, dependendo da tarefa ou da área de especialização. Já que liderar é um ofício e não uma posição permanente ou um status de honra ou poder.

3. Regressão e Desenvolvimento

Bion proporciona uma perspectiva valiosa sobre como a regressão pode afetar as dinâmicas de grupo, especialmente em contextos de alta tensão ou insegurança. Ou seja, sob condições de estresse, os adultos podem experimentar uma regressão temporária a padrões de pensamento e comportamento mais primitivos. Este fenômeno é fundamental para entender a predominância dos pressupostos básicos em detrimento da atividade racional e produtiva do grupo de trabalho.

Neste sentido, a regressão pode ser vista como uma resposta involuntária à incapacidade de lidar com o estresse ou a incerteza de maneira madura. Esses comportamentos podem incluir dependência excessiva, disputas irracionalizadas, ou a busca por um salvador, ou líder omnipotente, ilustrando o retorno aos pressupostos básicos de dependência, combate ou fuga, e acasalamento. Assim, o lidar com a regressão, é essencial não apenas identificar e corrigir os comportamentos regressivos, mas também entender e abordar as fontes de tensão e insegurança que catalisam tais comportamentos. 

4. Aplicação da Teoria das Dinâmicas de Grupo em Empresas Familiares

4.1 Exemplos Práticos

Para ilustrar como os pressupostos básicos identificados por Bion podem se manifestar em famílias empresárias, seguem exemplos práticos de cada tipo de grupo: dependência, acasalamento e luta ou fuga. Esses exemplos ajudam a entender como tais dinâmicas impactam a gestão e a governança em empresas familiares.

Grupo de Dependência: em uma empresa familiar de médio porte, o fundador, Sr. Jorge, ainda mantém controle total sobre as decisões estratégicas, mesmo tendo filhos qualificados e com experiência em gestão. Os filhos, por sua vez, sentem-se incapazes de tomar iniciativas importantes sem a aprovação do pai, perpetuando uma dinâmica de dependência. Esta situação pode retardar a inovação e a capacidade de resposta da empresa a novos desafios de mercado, visto que os filhos hesitam em apresentar novas ideias por receio de contrariar as expectativas ou as práticas estabelecidas pelo pai.

Grupo de Acasalamento: na empresa familiar Almeida & Filhos, os membros da família evitam conflitos a todo custo para manter a harmonia. Por isso, quando surgem desacordos sobre questões estratégicas da empresa, os membros tendem a optar por soluções que garantem a satisfação de todos, mesmo não sendo as mais eficazes. Em outras palavras, essa busca pela concordância mútua e pelo conforto emocional pode levar à tomada de decisões medianas, onde as escolhas são mais influenciadas pelo desejo de manter relacionamentos pacíficos do que pela necessidade da empresa.

Grupo de Luta ou Fuga: em resposta a uma crise financeira significativa na empresa Costa Tecnologias, diferentes grupos da família começam a culpar mutualmente pelo declínio nos negócios. Um dos filhos quer adotar uma abordagem agressiva, cortando custos rapidamente. Já outros membros preferem uma abordagem mais cautelosa, evitando decisões drásticas que afetem a imagem da empresa. Assim, a tensão entre esses grupos resulta em uma atmosfera de “luta ou fuga”. Por um lado, propostas podem ser rapidamente descartadas sem avaliação adequada. Já outras podem ser adotadas precipitadamente, mais como uma reação emocional à crise do que como uma estratégia bem pensada.

4.2 Aplicabilidade das Dinâmicas de Grupo

Identificação e Gestão do Grupo Básico: nas empresas familiares, é comum que emoções e lealdades pessoais ofusquem objetivos empresariais claros. Isso pode levar a decisões de negócios desfavoráveis e baseadas em emoções, em vez de raciocínios ou estratégias. Assim, identificar quando o grupo de pressupostos básicos está dominando, permite que intervenções estratégicas realinhe a equipe aos objetivos do grupo de trabalho.

Conflito e Intervenção das Dinâmicas de Grupo: conflitos em empresas familiares muitas vezes surgem de dinâmicas emocionais não resolvidas. Assim, através dos conceitos de Bion é possível reconhecer e abordar essas emoções de maneira construtiva. Facilitadores podem usar essas teorias para mediar discussões, transformando emoções potencialmente destrutivas em diálogos produtivos que reforcem o grupo de trabalho.

Fomentando a Comunicação Efetiva: a comunicação é a espinha dorsal de qualquer organização eficaz, e Bion destacou sua importância para a saúde do grupo de trabalho. Em contextos familiares, é vital estabelecer e manter canais de comunicação. A expressão honesta e aberta de pensamentos e sentimentos, ajudando a dissipar mal-entendidos e a promover transparência.

Desenvolvimento de Líderes: líderes de empresas familiares se beneficiam imensamente ao entender as teorias de Bion. Já que, a liderança eficaz requer a habilidade de navegar e equilibrar as necessidades emocionais e operacionais da empresa. Por isso, programas de treinamento devem capacitar líderes a identificar, gerenciar e canalizar eficazmente as energias emocionais. E, assim, promover a saúde e a produtividade do grupo de trabalho.

5. Conclusão

Portanto, as teorias de Bion sobre as dinâmicas de grupo fornecem percepções valiosas para entender as complexas interações nas empresas familiares. Uma vez que, para desenvolver estratégias mais eficazes para a governança e sucessão, tanto os aspectos econômicos quanto psicológicos devem ser analisados. Em outras palavras, uma compreensão mais profunda das forças subconscientes em jogo, as empresas familiares podem cultivar ambientes mais saudáveis e sustentáveis para as futuras gerações.

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Referência:

Leia também o artigo: “A ‘Dinâmica de Grupos’ de Bion e as Organizações de Trabalho” link

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